Migrations in Digital Space
23 november 2022 | 14h | Hybrid

→ Iscte, Building 2, Room B201

→ Link ZOOM: https://bit.ly/MigDigit

 

 

 

 

 


 

 

RESUMO COMUNICAÇÕES

 

 

O uso do WhatsApp como instrumento de manutenção da língua da família em contextos de migração e mobilidade

Sarita Monjane Henriksen 

 

Ao longo dos anos noventa e mais cedo, a deslocação e a mobilidade, e a distância do país de origem podem ter contrariado a preservação e a manutenção das línguas de origem das famílias (especialmente, línguas minoritárias e migrantes). Uma consequência imediata da falta de proximidade com os membros da família foi certamente uma ruptura parcial ou total com a língua de origem, devido à necessidade obrigatória de mudar para a língua do país de acolhimento (frequentemente a língua oficial e dominante da sociedade). Ao longo do século XX, foram realizados inúmeros estudos de investigação com enfoque na questão da língua e mobilidade, e as consequências resultantes da manutenção e mudança da língua. Por exemplo, Fishman (1972: 107) argumenta que "quando as populações adoptam uma nova língua ou variedade nos seus repertórios, ao mesmo tempo, abandonam uma língua ou variedade que anteriormente utilizada". Com base nos resultados de um estudo micro (ou de pequena escala) realizado com moçambicanos na diáspora, através de questionários e entrevistas informais, defendo que o surgimento e difusão das tecnologias de informação e comunicação (TIC) e da digitalização vem quebrar a equação anterior de que a deslocação significa ruptura com as línguas de origem. Diferentemente do passado, onde as famílias recorriam única e exclusivamente à telefonia fixa de alto custo para comunicar com os que ficaram para trás, a utilização generalizada da telefonia móvel de baixo custo mais acessível e, em particular, a plataforma WhatsApp veio significar que a deslocação e a mobilidade não devem necessariamente resultar no desaparecimento das línguas minoritárias, migrantes e mais pequenas.

 

Palavras-chave: Migração, mobilidade, deslocamento, práticas linguísticas familiares, L1, WhatsApp, manutenção linguística

 

 

 

Tecnologias digitais em investigações acerca de multilinguismo familiar: oportunidades e desafios metodológicos

Rafael Lomeu Gomes 

 

O escopo de abordagens sociolinguísticas em investigações acerca de multilinguismo familiar vem expandindo consideravelmente nos últimos anos (Lanza e Lomeu Gomes 2020). Em especial, questões ligadas a migrações e ao espaço digital têm ganhado destaque na agenda de pesquisa de investigadores que buscam entender como novas tecnologias estão sendo usadas por famílias com o intuito de promover o uso da língua de herança no ambiente familiar. Por um lado, tais inovações tecnológicas trazem consigo a possibilidade de usar uma série de novos métodos na coleta e análise de dados sobre práticas multilíngues e multimodais entre familiares que residem no mesmo domicílio ou que mantêm laços apesar da distância. Por outro lado, os desafios metodológicos impostos por essas condições incluem questões éticas, práticas e políticas. Nesta fala, apresento pesquisas recentes que exploram métodos inovadores sobre práticas multilíngues de famílias no espaço digital (Curdt-Christiansen e Iwaniec 2022, Lexander e Androutsopoulos 2021, Palviainen e Kędra 2020, 2022) e levanto desafios metodológicos sobre os quais é importante nos debruçarmos.

 

 

REFERÊNCIAS

Curdt-Christiansen, X. L., & J. Iwaniec, (2022). ‘妈妈, I miss you ’: Emotional multilingual practices in transnational families. International Journal of Bilingualism. https://doi.org/10.1177/13670069221125342

 

Lanza, E. & R. Lomeu Gomes. (2020). Family Language Policy: Foundations, theoretical perspectives and critical approaches. In Schalley, A. C. & S. A. Eisenchlas (eds.) Handbook of home language maintenance and development: Social and affective factors. De Gruyter Mouton. 153-173. https://doi.org/10.1515/9781501510175-008

 

Lexander, K.V. & J. Androutsopoulos. (2021). Working with mediagrams: a methodology for collaborative research on mediational repertoires in multilingual families, Journal of Multilingual and Multicultural Development, 42:1, 1-18. https://doi.org/10.1080/01434632.2019.1667363

 

Palviainen, Å. & Kędra, J. (2020). What’s in the family app? : Making sense of digitally mediated communication within multilingual families. Journal of Multilingual Theories and Practices, 1(1), 89-111. https://doi.org/10.1558/jmtp.15363

 

Palviainen, Å. and Kędra (2022). This Is the Normal for Us: Managing the Mobile, Multilingual, Digital Family. In L. Wright & C. Higgins (Eds.). Diversifying Family Language Policy: (pp. 123–142). London: Bloomsbury Academic http://dx.doi.org/10.5040/9781350189928.ch-007

 

 


  

O Ciclo de Seminários internacional Migrações no Espaço Digital: experiências, transformações e resistências, tem como objetivo desenvolver uma análise interdisciplinar que contribua para o entendimento do modo como as migrações são atualmente construídas, transformadas e moldadas pelo espaço digital, procurando alargar o nosso conhecimento sobre o impacto destes processos não apenas online como também offline.
Este Ciclo de Seminários pretende contribuir para a produção de conhecimento dos desafios globais contemporâneos, desenvolvendo trabalho entre as ciências sociais e as tecnologias digitais que vise contribuições inovadoras com impacto nas políticas públicas.


Nestes Seminários propomos debater sobre o papel das tecnologias digitais a vários níveis, nomeadamente na:
- Transformação das metodologias e técnicas de investigação aplicadas aos estudos migratórios (etnografia do digital);
- Utilização das tecnologias digitais e de ‘Big data’ como fonte de produção de informação, controlo e monitorização dos processos migratórios por parte dos Estados;
- Amplificação de discursos de ódio contra migrantes e minorias étnicas;
- Intensificação das desigualdades no acesso a informação (digital divide);

- Viabilização e produção de novas práticas de participação e resistência a partir do espaço digital por parte dos migrantes e organizações da sociedade civil.


Cada sessão contará com a participação de membros da academia, ativistas, artistas, profissionais dos media e representantes políticos. A periodicidade do Ciclo de Seminários é trimestral e o formato, online ou híbrido.

 

Comissão organizadora:
Ana Raquel Matias, CIES-Iscte
Simone Castellani, CIES-Iscte
Sofia Gaspar, CIES-Iscte
Thais França, CIES-Iscte